Tratar o PSDB como direita e
colocar-se como esquerda tem sido um recurso bastante utilizado pelo PT. Tal
estratégia tem-lhe servido como uma espécie de trunfo moral.
Quando as coisas apertam
(como nas últimas eleições), os petistas colocam como obrigação moral das
forças políticas comprometidas com “os de baixo” não permitir que a direita
(PSDB) volte ao poder. Isso tem dado certo resultado positivo para eles.
Emblemático a esse respeito
foi a atitude de Luciana Genro (Psol) que, no segundo turno disputado entre
Dilma e Aécio, disse a seus eleitores que estavam livres para votar, que ela
não apoiaria ninguém. Todavia, para evitar confusão, foi enfática: “Aécio, não”.
Faria alguma diferença se ela tivesse dito “Dilma, sim”?
A atitude de Luciana Genro foi
a mesma de muitos outros, e contribuiu para a vitória de Dilma.
Não hei de engrossar o coro
daqueles que dizem que não faz mais sentido falar em direita e esquerda. Digo
apenas que, se os partidos tomados como parâmetro de uma e outra coisa foram PT
e PSDB, não faz mais sentido falar em direita e esquerda.
Hoje muitos criticam Dilma,
inclusive gente do governo e do PT. Criticam-na, como se ela tivesse dado um
imperdoável giro à direita em seu governo. Entretanto, observando atentamente a
“verdade efetiva das coisas” (como diria Maquiavel), Dilma tem sido coerente,
isto é, segue aprofundando e ampliando reformas iniciadas sob os governos Lula,
do mesmo modo como este aprofundou e ampliou reformas começadas sob os governos
FHC.
Um exemplo para ilustrar.
Fernando Henrique Cardoso tinha intenção de taxar os inativos. Na oposição, o
PT não deixou. Quando no governo, uma das primeiras ações de Lula foi esta:
taxar os inativos. Vê-se, por este ângulo, que as reformas na previdência
recentemente efetivadas por Dilma apenas aprofundam e ampliam algo já começado
por seus antecessores.
Tomando estas e outras
tantas coisas em conta, não há motivos para gritar contra Dilma e silenciar
sobre FHC e Lula. Tomando estas e outras tantas coisas em conta, nada há de
substancial que nos autorize tratar PSDB como direita e PT como esquerda, como
se um fosse o contrário do outro.
A propósito, vale lembrar
duas frases do ex-presidente Lula. Numa delas, respondendo a críticas vindas de
setores comprometidos com as classes subalternas e procurando justificar a
orientação (destrista) de seu
governo, disse que “o PT nunca foi esquerda”, que ele sempre foi um “partido de
centro”. Noutra, afirmou que “nunca os banqueiros haviam ganhado tanto como em
seu governo”. Com razão, Paulo Maluf, “companheiro” seu, pôde dizer em tom de
galhofa que, perto de Lula, ele era “um comunista”, posto que não apoiaria as
multinacionais como o ex-presidente o fez, e sua sucessora continua
fazendo.
A fim de tratar as coisas
pelo seu devido nome, importa dizer que o “centro” é a fronteira avançada da
direita e a zona onde os desertores da esquerda usam folhas de parreira para
esconder sua rendição à direita. A terceira via nunca foi mais que o fruto da
confraternização que direitistas e ex-esquerdistas fazem a expensas “dos de
baixo”. Não sem razão, na Europa como nos EUA, há quem veja em Lula uma espécie
de Tony Blair tropical.
Os motivos de tal comparação
são assaz patentes. Este, como aquele, tem vínculos com as forças trabalhistas.
Mas orientou seu governo no sentido de enquadrá-las nos projetos do capital. Retomando
uma expressão muito utilizada em décadas passadas, poderíamos definir os governos
petistas (sob Lula e sob Dilma!) como governos violino, porquanto serem “levantados
pela esquerda, mas tocados pela direita”.
Como dissemos acima, tratar PT
como esquerda e PSDB como direita tem servido como trunfo moral para o PT. Um trunfo
de que há muito ele vem se mostrando indigno. Por isso, para construção de um
projeto societário verdadeiramente popular, cumpre deixar claro que PT e PSDB
não são partidos com projetos societários opostos e mutuamente excludentes.
Eles são, na verdade, variação de uma única e mesma coisa. PT e PSDB são as
alas vermelha e azul da direita brasileira.
[1]
Cientista Social e
membro do Núcleo de Pesquisa Estado,
Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO. E-mail:
israelpolitica@gmail.com
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